Hybridization between musical styles: "choro" and jazz

 "If you have to ask what jazz is, you'll never know" - Louis Armstrong

"Jazz is not a what, it is a how." -  Bill Evans


"It takes an intelligent ear to listen to Jazz." -  Art Blakey


"The idea is more important than the style you're playing in." - Ornette Coleman



"Jazz is a spectacularly accurate model of democracy & a look into our redemptive future possibilities." - Ken Burns

"Spontaneously composed music is a counterpoint that has its own rules based on a natural order and intuitive logic." - D C DowDell


The "choro" (crying), taken as a genuine Brazilian gender and reflects an amalgam of procedures to play a specific repertoire, has since its inception, the tradition of reinventing, seeking inspiration in foreign musical traditions. This occurred both at the beginning, with the first whiners (players of "choro") making use of elements of European music (waltzes, mazurkas and polkas), but also later, with new referrals of jazz coming from North America. The hybridization between the "choro" and jazz found in the tune "Catita" is part of a long historical process in which new "accents" are incorporated into the increasingly rich speech of the new generations of musicians from "choro".
The identification and analysis of musical elements in the "choro" tune "Catita" show a strong influence of jazz elements, in both the composition of K-Ximbinho represented by leadsheet, as well as interpretation of saxophonist Zé Bodega, represented by the recording of this song on the album "Memories of a clarinet" . These elements are apparent at various levels: formal aspects, rhythmic and melodic, harmony, driving bass lines, expressive effects, bridle, types of articulation and stylistic influence from other musicians. The concomitant presence of characteristic elements of these two genres do not mischaracterize "Catita" while "choro" style, but points to a common making of music instrumental at both the compositional and in terms of performance, which is the hybridization of popular genres.
This finding also reinforces the idea that, unlike what happens in classical music, popular music provides a much greater rapprochement between the creative process and the process of interpretation, reducing the distance between the composer and performer. The text noted leadsheet-shaped (or score) provides for the popular composer and leaves spaces that will be filled only by the singularities, culture and desires of the musical performer, at the same time as their performance practices, inherent to the process of oral transmission of knowledge of music in popular genres, inspired the writing of their composers. "Catita" reflects and summarizes this framework, which is repeated in many other examples of popular repertoire, in which the barriers between the cornfields of composition and performance become very tenuous. The freedom with which the composer K-Ximbinho - himself a multi-instrumentalist - and interpreter Zé Bodega - himself a "composer" as improvisator - move between music as "ink on paper" and the music as "sound waves in the air" are exemplary and are opposed to territorialism in music.


O choro, tido como um gênero genuinamente brasileiro e que reflete um amálgama de procedimentos para se tocar um determinado repertório, apresenta, desde o seu surgimento, a tradição de se reinventar, buscando inspiração em tradições musicais estrangeiras. Isto ocorreu tanto no início, com os primeiros chorões, lançando mão de elementos da música européia (valsas, mazurcas e polcas), como também posteriormente, com novas referências do jazz vindas da América do Norte. A hibridação entre o choro e o jazz constatada em Catita faz parte de um longo processo histórico, no qual novos “sotaques” são incorporados à fala cada vez mais rica das novas gerações de músicos do choro.
A identificação e análise dos elementos musicais no choro Catita evidenciam uma forte influência de elementos do jazz, tanto na composição de K-Ximbinho, representada pela leadsheet, quanto na interpretação do saxofonista Zé Bodega, representada pela gravação desta música no disco Saudades de um clarinete. Estes elementos evidenciam-se em níveis diversos: aspectos formais, melódicos e rítmicos, harmonia, condução dos baixos, efeitos expressivos, embocadura, tipos de articulação e influência estilística de outros instrumentistas. A presença concomitante de elementos característicos destes dois gêneros não descaracteriza Catita enquanto choro, mas aponta para um fazer musical comum na música instrumental brasileira, tanto no nível composicional quanto no nível da performance, que é a hibridação de gêneros populares.
Esta constatação também reforça a idéia de que, diferentemente do que ocorre na música erudita, a música popular permite uma aproximação muito maior entre o processo criativo e o processo de interpretação, diminuindo a distância entre o compositor e o performer. O texto notado em forma de leadsheet (ou partitura) pelo compositor popular prevê e deixa espaços que só serão preenchidos pelas singularidades, cultura e desejos musicais do intérprete, ao mesmo tempo em que as suas práticas de performance, intrínsecas ao processo de transmissão oral do conhecimento musical nos gêneros populares, inspiram a escrita de seus compositores. Catita reflete e sintetiza este quadro, que se repete em muitos outros exemplos do repertório popular, em que as barreiras entre as searas da composição e da perfomance tornam-se muito tênues. A liberdade com que o compositor K-Ximbinho - ele próprio um multi-instrumentista - e o intérprete Zé Bodega - ele próprio um “compositor” como improvisa – transitam entre a música como “tinta no papel” e a música como “ondas sonoras no ar” são exemplares e fazem oposição ao territorialismo em música.

http://www.musica.ufmg.br/permusi/port/numeros/13/num13_cap_01.pdf